Eva Furnari apresenta às crianças famílias em seus mais variados formatos

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Bia Reis
16 de setembro de 2016 | 16h43

 

A bruxa Zelda, a família Gorgonzola e Felpo Filva são alguns dos personagens que povoam a imaginação de quem foi criança no Brasil a partir dos anos 80. Quem cresceu desde então e teve contato com literatura infantil, em casa ou na escola, certamente leu ao menos um livro de Eva Furnari – sua obra é composta por mais de 60 títulos, que, juntos, superaram a marca dos 3 milhões de exemplares vendidos.

 

Na Bienal Internacional do Livro de São Paulo, realizada em agosto, na capital paulista, o reflexo desta longa carreira estava expresso na fila formada por leitores de diferentes gerações à espera de um autógrafo de Eva. Na ocasião, a autora lançou Drufs, pela Editora Moderna.

 

A obra é bem diferente dos trabalhos da autora, que costuma levar seus leitores por caminhos da fantasia e do universo simbólico. Em Drufs, Eva tem um pé fincado no real: aborda a variedade de famílias que temos nos dias de hoje. Outra diferença está nas ilustrações, feitas com base em fotografias.

 

Na história, a professora Rubi sorteia de sua caixinha de surpresas uma tarefa desafiadora e trabalhosa para seus alunos e orienta: Tire fotos da sua família Escreva uma ou duas coisinhas interessantes ou desinteressantes sobre ela. Podem ser detalhes dramáticos, problemáticos, patéticos, poéticos. O que você quiser. (Também vale inventar)

 

Nas páginas seguintes, Eva perfila personagens e famílias, cada qual com sua singularidade. A família Tampinhas é formada por três irmãos; Tico Tampinha, o aluno, conta que adora estudar a vida dos insetos e de escrever. A família Klaun é resultado de casamentos e descasamentos; Dô relata que tem duas casa, dois pais, duas mães, uma tia, sete tios, oito avós, oito avôs, dois irmãos e uma outra que ainda não nasceu e que acha isso normal (apesar de a avó Gordomila achar um pouco confuso). Na família Zólhos, o nome de todos começa com T: Tatinca, Totonco, Teteleco, Tácito e Tilte. Tem família composta por pessoas e bichos, por gente que só pensa em festa, por dois pais e uma criança, e por borboletas e libélulas, entre outras.

 

Além de criar personagens com histórias e nomes engraçadíssimos, Eva os ilustrou de maneira inusitada: fantasiando seus dedos. Para compô-los, lançou mão de milhares de apetrechos descobertos em uma incursão à região da 25 de Março, rua de comércio popular em São Paulo. De lá vieram bexigas, cabelos, esponjas, presilhas, óculos e outros infinitos detalhes que deram vida às famílias. “Fiquei um ano produzindo experimentações antes de fazer as fotos que foram para o livro”, lembra Eva. “Depois, foram cerca de 5 mil cliques em dois meses.”

 

Leia a seguir trechos da entrevista de Eva:

 

Como nasceu a ideia de “Drufs”? Havia a vontade de falar sobre a diversidade das famílias?
Drufs começou com a brincadeira dos dedos, de criar os personagens. A ideia inicial era fazer um perfil de personagens. Como o dedo não tem movimento, não dá para fazer uma história longa, complexa, de um personagem que vai mudando. Sabia que natureza da ilustração seria um retrato, por isso tinha pensado em fazer perfis. Mas achei que estava meio pobre, meio sem graça e decidi criar a família inteira. Comecei então a perceber que era difícil falar de família, porque há diversas situações, e o tom estava muito adulto, impregnado de julgamentos. Me ocorreu a ideia de colocar a narrativa na boca da própria criança. Surgiu então a redação e, depois, a professora. Fiquei um ano fazendo experimentações antes de fazer as fotos que foram para o livro. Depois, foram cerca de 5 mil cliques em dois meses.

 

O tema abordado, calcado mais na realidade, e a maneira de ilustrar o livro, com base em fotografias, são bastante diferentes dos seus trabalhos anteriores. O que você busca quando começa a fazer um novo livro? É o desafio que te move?
Acho que é inconsciente, mas não consigo repetir, fazer o que eu já fiz. Talvez seja uma característica de personalidade. Estou sempre buscando algo novo, é o que me dá o prazer de criar. Muita gente me pede uma continuação do Felpo (Felpo Filva), mas não consigo. Acho que seria um processo racional, perde a graça. No caso de Drufs, não vejo uma sequência, mas acrescentaria outros personagens. Faltou uma mãe solteira. É da própria natureza do trabalho ir por caminhos que nunca foram trilhados, ou que tenham a ver com alguma questão do presente.

 

Quando você revisita sua carreira, o que tem vontade de fazer?
Tenho gavetas entupidas de projetos, ideias que nem sempre vingam porque não tenho vontade de continuar. De repente, meio sem querer, escolho uma ideia e começo a trabalhar em cima dela. Não tenho muito controle. Não pensei em fazer (Drufs) porque estamos num momento em que a sociedade é diferente. Começou como uma brincadeira, mas, misteriosamente, depois de um tempo, as coisas começam a se organizar e tudo fez sentido. Como se eu fosse pescando os pedaços e costurando.

 

O desafio de fazer a criança se apaixonar pelos livros é maior hoje?
Cada época tem a sua dificuldade. Antigamente não se tinha a fartura de livros, de bibliotecas. É mentira que se lia mais antigamente, é um mito. Na escola, as crianças leem bastante. Agora eu acho que a grande dificuldade é que as crianças estão – e a própria sociedade está – com o cérebro excessivamente acelerado. É muita informação para processar e muita velocidade. A velocidade da mente é diferente da do corpo e gera problemas inacreditáveis. O cérebro é viciado em velocidade, em informação. A literatura infantil é a possibilidade de voltarmos para um ritmo mais humano – em vez de andar de trem bala, andamos de bicicleta, no máximo.

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